palavra Ibeji resulta das palavras ibi, que significa parir e eji, que significa dois, indicando dois partos ou gestação dupla, ou seja, o nascimento de gêmeos. Quando nascem gêmeos os iorubás dão o nome de Taiwo ao que nasce primeiro e ao que nasce depois, o nome de Kehinde. Taiwo significa aquele que vai conhecer a vida, primeira criança, criança mais nova. Isto porque o primeiro a nascer, embora seja o mais velho dos dois irmãos (ou irmãs) na ordem dos nascimentos, espiritualmente é o mais novo, e por isso deve sair para o mundo físico antes de seu irmão que, por ser espiritualmente mais velho, merece respeito e chegará depois do terreno haver sido reconhecido pelo mais novo. A palavra Kehinde significa segunda criança ou criança mais velha.
Toda criança nascida após o parto de gêmeos recebe o nome de Idowu – equilíbrio das crianças Ibeji. Chamamos atenção para o fato de que no Brasil Ibeji foi sincretizado com os gêmeos Cosme e Damião, sendo muito frequente vermos esses gêmeos acompanhados de um irmãozinho menor chamado Doún, palavra que é, evidentemente, uma corruptela de Idowu.
As crianças ibeji muitas vezes são mandadas a terra por algum Orixá para aliviar o sofrimento de uma família e, dependendo do zelo que os pais tiverem para com os esses filhos, o nascimento duplo será para eles um problema ou uma solução. É recomendável que os pais reverenciem os próprios filhos, considerados semi-divindades, sendo porém preciso que respondam, simultaneamente, às necessidades humanas dessas crianças. Convém que cultuem Ibeji para adquirir novas forças e conservar a grande energia recebida com o nascimento desses filhos.
Ibeji, também chamado Ejìré, possui características análogas às do Orixá Egbe. Egbe significa, literalmente, sociedade e designa a Sociedade dos Espíritos Amigos ou dos Amigos Espirituais, referindo-se, simultaneamente, a um Orixá e a uma irmandade ou corporação de seres espirituais. Egbe é chamado também Ere igbo ouAragbo, o que significa habitante da floresta ou habitante do além. O Orixá Egbe protege as crianças da morte prematura.
Ibeji também protege da morte prematura; alivia sofrimentos materiais e espirituais de seus devotos; orienta o Ori dos abiku e dos demais devotos, para que sigam o caminho correto; atrai progresso econômico e desenvolvimento espiritual; harmoniza as dimensões material e espiritual da vida; proporciona sentimentos de paz, tranqiilidade, serenidade e confiança; proporciona fertilidade; transforma lágrimas em sorrisos. É associado à duplicidade – existir/não existir; fazer/não fazer etc. É capaz de atrair condições para as conquistas; domina recursos para promover a cura e o bem-estar; interfere no destino humano e remove obstáculos da vida das pessoas.
Não há iniciados em Ibeji, nem assentamentos, nem incorporação desse Orixá. Por isso ele é reverenciado nas próprias pessoas a eles dedicadas. No entanto, há cultos que propiciam ao devoto a aquisição de qualidades humanas muito comuns em crianças, tornando-os, pois, calmos, alegres, brincalhões, sociáveis, gratos, confiantes, esperançosos, leais, comunicativos, versáteis, apreciadores de música e dança. Para cultuar Ibeji é necessário cultuar também Egbe.
Quanto às próprias crianças gêmeas, observa-se que apesar da grande semelhança física que há entre elas, são expressivas as diferenças no que diz respeito a seus Oris e seus destinos, sendo comum o fato de haver muita disputa entre elas. Costuma ocorrer que um dos irmãos alcança sucesso enquanto o outro fracassa e para que essa diferença não atinja extremos é preciso equilibrar as suas energias através do culto ao Orixá Ibeji.
Há uma cantiga de Ibeji, registrada por Sikiru Salami, King, na obra Cânticos dos Orixás Africanos, editada em São Paulo pela Editora Oduduwa (1992), que diz o seguinte:
Se eu possuir Ejìré, dançarei.
Se eu possuir Ejìré, ficarei alegre.
Ejìré são duas crianças
que fazem o lar do fracassado prosperar.
A idéia de possuir Ejìré é algo que me agrada.
Edúnjobí.
Ejìré, vindo de Isokun.
Fonte: Caminho dos Orixás