Èṣù, é a divindade central dentro Culto Tradicional Yoruba e das religiões de matriz africana de outras vertentes das religiões afro-brasileiras, é um Orixá de grande importância e complexidade. Conhecido como o mensageiro entre os mundos espiritual e material, Esù desempenha um papel vital na intermediação entre os seres humanos e os demais Orixás.
Sua representação é multifacetada, variando em diferentes tradições e regiões, mas há elementos consistentes em sua caracterização. Esù é frequentemente associado à dualidade, expressando tanto aspectos positivos quanto desafiadores. Ele é retratado como um guardião das encruzilhadas, um detentor das chaves que abrem os caminhos da comunicação e das possibilidades.
Em termos de simbolismo, Èṣù personifica a energia da transformação, do livre arbítrio e da sabedoria para fazer escolhas. Sua presença é invocada no início de rituais para assegurar a conexão entre os devotos e as divindades, facilitando a comunicação e a transmissão de pedidos, agradecimentos e súplicas aos demais Orixás. Èṣù é o responsável pelo transporte das oferendas aos demais Orixás.
Os fundamentos ligados a Èṣù são baseados na crença na justiça e na necessidade de equilíbrio entre os diversos planos da existência. Seu papel como guardião das encruzilhadas não está apenas relacionado a caminhos físicos, mas também a encruzilhadas de escolhas na vida humana. Ele é visto como o mediador que ajuda a orientar decisões importantes e a oferecer clareza diante de situações complexas.
Os rituais dedicados a Èṣù envolvem oferendas específicas que variam de acordo com a tradição e a necessidade do devoto. Essas oferendas são feitas como forma de demonstrar respeito, gratidão e buscar sua intervenção e proteção em momentos de dificuldade.
É essencial compreender que Èṣù não é simplesmente uma figura de “bem” ou “mal”, mas sim uma divindade que representa a dualidade inerente à condição humana. Sua presença e influência permeiam diversos aspectos da vida, reforçando a importância da responsabilidade nas escolhas, do respeito à diversidade e da compreensão da complexidade da existência.
Assim, os fundamentos relacionados a Èṣù abrangem não apenas sua função como intermediário espiritual, mas também sua representação como símbolo de sabedoria, transformação e equilíbrio, elementos essenciais na jornada espiritual e humana.
Existe um ditado Yorubá que diz: – Diante de Esù ninguém tem problemas.
Afinal, quem é Esù?
Èṣù é a divindade criada por Deus como o grande mantenedor da ordem, organização, disciplina e justiça entre os homens. É o inspetor de todos os rituais, sendo diretamente responsável por levar até o destino, todas as oferendas às demais divindades, Èṣù é o elo de ligação do mundo material e espiritual (Aiyê e Orun) , promovendo o bem-estar dos seres humanos. Mensageiro dos Orixás, Èṣù nos traz as bênçãos de Olodumare e dos Orixás e representa a mais pura expressão da verdade, por essa razão muitas vezes é incompreendido, pois a sua verdade é diferente da nossa verdade, há um proverbio yoruba que diz “Aquele que fala a verdade é inimigo dos seres”.
Èṣù é o grande responsável pelo equilíbrio da natureza humana, corrigindo o homem que carrega o que chamamos de mau Ori.
Comparar Èṣù com o diabo ou satanás é um equívoco. Somente pessoas que não conhecem o Culto aos Orixás e as religiões de matriz africana cometem esse erro, o que promove o preconceito velado a todos os fiéis e devotos de Orixá.
Porque Esù é comparado ao Diabo por outras crenças?
Dia 24 de Dezembro foi consagrado pelo povo Yoruba como o dia de esclarecimento da divindade Èṣù (também chamado de Exú), desta forma abraçamos o dia 24 de dezembro como uma data para elucidar a todos os seres humanos a verdade sobre Èṣù.
Ao contrário das religiões cristãs, judaicas e islâmicas, nós do Culto Tradicional Yoruba e do Culto de Umbanda Tradicional não acreditamos da figura do diabo e/ou satanás. Respeitamos a quem acredita neste ser espiritual, porém, nós acreditamos que Deus, com todo o seu poder não pode ter inimigos, já que ele criou todos os seres animais, vegetais, minerais e os seres espirituais. Acreditamos que o Deus (Olodumare) criou os Orixás para trazer para a humanidade uma vida em harmonia, sendo Èṣù o responsável por trazer esta harmonia no universo. Acreditar que Èṣù é o diabo representa pura ignorância.
A demonização de Èṣù, tem raízes históricas complexas e está associada a interpretações distorcidas e preconceituosas de práticas religiosas africanas.
Durante o processo de colonização e expansão das potências europeias na África, houve uma tentativa sistemática de deslegitimar as crenças e práticas nativas. As religiões africanas eram vistas como pagãs, primitivas e incompatíveis com as crenças cristãs trazidas pelos colonizadores. Para desacreditar e desvalorizar essas tradições, muitos dos deuses, espíritos e divindades adorados pelos africanos foram equiparados a demônios ou entidades malignas pelos colonizadores.
Èṣù, por sua natureza complexa e multifacetada, foi mal interpretado e erroneamente associado a figuras demoníacas por alguns missionários e colonizadores europeus. Sua natureza dual, que reflete tanto aspectos desafiadores quanto positivos, foi frequentemente distorcida para se encaixar na narrativa cristã de bem versus mal.
Essa demonização foi intensificada pelo processo de escravização dos africanos, onde muitos aspectos de suas culturas foram suprimidos e reprimidos. Com o sincretismo religioso que ocorreu durante a escravidão, tentou-se forçar a assimilação das crenças africanas aos padrões religiosos impostos pelos colonizadores, o que levou a uma interpretação deturpada e negativa de divindades como Èṣù.
É importante destacar que essa demonização não reflete a essência ou a verdadeira natureza de Èṣù dentro das práticas religiosas africanas tradicionais. Na cosmologia iorubá e em muitas outras tradições africanas, Èṣù é reconhecido como um Orixá de grande importância, um mensageiro divino que desafia a dualidade simplista do bem e do mal, representando, na verdade, a complexidade e a interconexão de aspectos fundamentais da existência humana e espiritual.
Èṣù não é Satanás
Èṣù is not Satan
Èṣù kìí ṣe Sátánì.